Quem sou eu

Quem sou eu
Em primeiro lugar uma pessoa grata a Deus por cada dia a mais que Ele me dá neste mundo de loucos ( sou uma deles )Depois mulher e mãe. Sempre fui apaixonada por livros e os meus são só a extensão desta paixão. Se escrevo bem, se consigo emocionar, vocês que vão dizer.

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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Autora irlandesa se encanta pelo Brasil e vai escrever sobre o país.


Fãs lotaram o estande da editora Novo Conceito no penúltimo dia da Bienal SP para conversar e pegar autógrafos com a escritora Lucinda Riley. Andando pelos corredores para chegar ao evento, já era parada por leitoras que a reconheciam e pediam que assinasse seu exemplar.
"A Casa das Orquídeas" foi o primeiro romance da autora publicado em português e a resposta, vinda pelas redes sociais, foi tão positiva que ela prepara o lançamento de outros. 

A maioria de seus livros segue um mesmo padrão. Uma história do passado que influencia a vida dos seus personagens no presente. No romance publicado por aqui, o período passado na Tailândia pelo avô da protagonista faz com que ela se aproxime do rapaz que será capaz de tirá-la da tristeza do luto.
Assim como em seus outros livros, grandes perdas, dramas familiares e um grande amor envolvem os personagens de Lucinda. Para ela, eles são como seus filhos que vão lhe contando como aconteceu a história.
Simpática, a irlandesa conversou com a Livraria da Folha e contou um pouco sobre seu processo de escrita, sua relação com os fãs, como está apaixonada pelo Brasil e adiantou que irá voltar para escrever seu próximo livro, que se passará no país.
Leia a seguir a íntegra da entrevista: 

*
 
Livraria da Folha: Você é multitarefa. É mãe, esposa, escritora. Como você se define como mulher?
Lucinda Riley: Eu não sei. Sempre fui muito feminina, sou uma garota "girlie". Gosto de lindas coisas de mulher. Eu não gosto de esportes, sempre preciso de alguém para me apoiar, não sou forte fisicamente. Sou como uma bailarina. Mas eu sou forte de uma maneira: tendo filhos. Tive quatro deles sem problema algum. Então não tenho problemas de me encontrar como mulher, porque é como eu sou. Não tento ser um homem, eu não quero ser um homem. E não me envergonho disso. Acho que as mulheres não deveriam competir com os homens. Nós somos tão poderosas, quero dizer, nós temos filhos! E isso é maravilhoso!
 
Livraria: Você deu uma pausa na carreira de escritora para cuidar de sua família. Quando começou a escrever?
Lucinda: Comecei a escrever aos 21 anos, até os 23. Quando tinha 25, tive meu primeiro filho. O segundo aos 28, quando me divorciei do meu marido. Depois disso conheci meu marido atual, porque eu era muito nova quando me casei da primeira vez. E então tivemos os nossos filhos. Ainda escrevia mas tinha que cuidar das crianças, e olhava para o livro pensava "um tem que ser abandonado", e foi o livro, não o bebê. O que foi muito bom para mim porque eu fui escrevendo oito livros, um a cada ano, quando eu era muito jovem. E eles eram todos muito parecidos para mim. Então eu fui amadurecendo e crescendo, e entendendo muito melhor a vida. Por isso eu acredito que o tempo que eu tirei para me dedicar à minha família foi muito produtivo para minha escrita também, porque me deu tempo de pensar, ver e analisar. Ainda que eu tenha escrito três livros, nunca publicados. Eles serviram como uma jornada para descobrir onde eu queria ir a seguir. Eu escrevi o tipo de história que estava acostumada, um tipo de romance inglês com uma grande saga e uma trama de detetive. Três histórias completamente diferentes.
 
Livraria: No Reino Unido surgiram grandes nomes da literatura, como Shakespeare e Jane Austen. Você se sente inspirada por eles?
Lucinda: Sim, eu fui dançarina e atriz, portanto interpretei muito Shakespeare. Eu não leio mais Shakespeare, tenho me concentrado muito mais nos clássicos. Tenho lido muito a literatura America no início do século 20, como Scott Fitzgerald, meu autor favorito de todos os tempos. No momento, estou lendo suas obras iniciais, não apenas as famosas, porque quero ser tão boa quando posso ser. A questão sobre as irmãs Brönte e Austen é que elas escreveram bastante sobre o tempo e escreveram histórias de amor. E isso é imenso. Lindas histórias de amor, situadas naquela época, e isto é o mesmo que eu faço. Não estou dizendo que um dia eu poderei ser como elas, mas definitivamente busco inspiração em suas obras. 

Livraria: Você é muito presente nas redes sociais. Como é a sua relação com seus leitores?
Lucinda: Incrível! Eu escrevi esse livro - "A Casa das Orquídeas" - dois anos atrás e o fiz completamente sozinha, sem objetivo de publicação. Quando o terminei, pensei que ninguém iria publicá-lo, mas entreguei ao meu agente e recebi respostas como "a situação não está boa para publicação no Reino Unido" ou "Muito bom livro querida, mas não". Eu pensei que talvez fosse o momento de desistir, achei que jamais teria o livro publicado quando três dias depois editores apareceram e colocaram muito dinheiro no projeto. E de repente, o livro vendeu mais de um milhão de cópias, eu não podia acreditar. Então quando as pessoas me procuram no Twitter e no Facebook eles são adoráveis. Mas ainda recebo muitas cartas e emails pessoais, mais do que nas redes sociais. Eu não tenho tempo para eles e realmente não gosto do Twitter, nele eu me sinto como se agisse no estilo "olá, eu sou uma grande estrela". Portanto, é minha enteada, que também é minha assistente, que as gerencia. Mas os emails, tão mais pessoas, eu vejo pessoalmente. São pessoas que escrevem sobre perderem um filho ou o marido ou qualquer outro drama pessoal, por isso eu realmente tento responder eu mesma, não gosto que outros o façam. Eles tomaram um pouco do tempo deles para escrever para mim, então eu tenho que fazer o mesmo para respondê-los. Algumas vezes nos tornamos amigos, passamos a nos corresponder ao longo dos anos. Mas eu me sinto muito honrada que estas pessoas se importem com o que escrevo.
 
Livraria: E quanto à relação com os fãs brasileiros?
Lucinda: Maravilhosa! Eles são grandes tuiteiros! Eu tenho um perfil lá há pouquíssimo tempo, e quando o livro foi publicado aqui o Twitter de repente explodiu! E todos foram tão positivos, nada maldosos e tão doces! Não acredito que tantas pessoas estão aqui hoje para me ver! E tenho uma história especial com este país. Uma amiga, que também é minha mentora especial, veio ao Brasil ano passado para se encontrar com João de Deus e ele mandou me dizer que eu viria para cá. No dia seguinte que recebi a mensagem, o acordo para a publicação do livro estava assinado! Quando meus editores me convidaram para vir eu tive que aceitar! O Brasil é muito especial para mim. Tenho viajado muito para divulgar meu trabalho, mas desde que cheguei aqui é como se já conhecesse o lugar. Eu não me sinto estranha na cidade, parece que eu conheço meus editores desde sempre. Estou amando o Brasil! De verdade, não apenas porque estou sendo entrevistada! (risos) Estou pronta para voltar aqui em fevereiro porque quero que meu próximo livro se passe aqui.
 
Livraria: O quanto de sua experiência de vida há em seu livro?
Lucinda: Acho isso muito difícil de dizer porque quando eu escrevo, não sei o quanto de mim está lá, mas com certeza estou centrada 100%. Então muito de minha experiência acaba aparecendo na história. Claro que nos trechos da história que se passam no presente, nestes há minhas experiências com os homens, com a família, de viagens.
 
Livraria: Você vive ou viveu algum tipo de amor que seus personagens vivem?
Lucinda: Completamente. Quando eu termino de escrever fico completamente devastada, porque eu sinto que tenho de parar com suas vidas. Eu quero dar a eles um final feliz por ter trabalhado com eles em minha mente por seis e eles são reais para mim. Quando eu escrevo, me afasto de minha família, são muitas crianças para cuidar. Então eu saio por três semanas todo ano e escrevo sobre o passado e literalmente falo, falo, falo por horas a história. Despejo tudo no papel, não tenho ideia de onde estou indo. Não tenho o roteiro do livro, ele apenas acontece. Alguma localização me inspira, como o Brasil agora, já que eu odeio trabalhar dentro de casa. Eu passei uma parte da infância na Thailândia e queria que meus filhos vivessem a mesma experiência, para que não tivessem a visão fechada do Ocidente. Então comprei um terreno na ilha, onde me inspirei para "A Casa das Orquídeas", e tinha meu microfone preso ao biquíni, narrando a história enquanto passeava na praia.
 
Livraria: Como você faz para montar a história após a gravação? Como é seu processo de edição?
Lucinda: Depois de ditar tudo, e minha enteada digitar, eu preciso sentar e corrigir o texto. Porque às vezes eu falo muito rápido e a escrita fica confusa. Às vezes o livro já está pronto quando eu o edito. Eu não gosto de me programar, não sinto que a história será natural se eu o fizer. Ela tem que fluir, os personagens tem que me dizer o que acontece com eles. Eles lideram o caminho, eu apenas os sigo. Em alguns casos eu sei o que vai acontecer e então, no dia seguinte, algum deles decidiu tomar um caminho diferente. Eles realmente ganham vida para mim. Assim tem menos pressão também. Dois livros meus foram publicados na Alemanha recentemente e fizeram um grande sucesso, com o que eu recebi uma grande quantidade de dinheiro. Não quero escrever pensando que alguma daquelas palavras não vale o que me pagam. Eu não mostro meus livros a ninguém até que esteja pronto, até que esteja perfeito para mim. Meus livros são como um bebê que você gera dentro de você e, depois de nove meses, você o mostra ao mundo. Não quero que digam que meu bebê não é tão bonito quanto eu disse que seria. E, curiosamente, meu processo de escrita leva exatamente nove meses. Todos os livros levaram este tempo para ficarem prontos.
 
Livraria: Para finalizar, uma mensagem para seus fãs brasileiros.
Lucinda: Eu gostaria de dizer que tomada pela felicidade e honrada por eles me deixarem entrarem em suas casas. Está sendo maravilhoso. E tomem cuidado porque posso acabar morando aqui! Fui muito bem recebida por todos os brasileiros que encontrei. Eu amo a positividade e a espiritualidade que encontrei. Há mais do que dinheiro e um carro caro e eu me identifico com isso. 

 
FERNANDA CORREIA
da Livraria da Folha

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